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visita-me descalço

por Natália Zuccala
Foto de Luísa Machado, para ilustrar o poema "visita-me descalço", de Natália Zuccala.

Natália Zuccala nasceu em São Paulo, em 1990. É autora de “Cheia” (2021, Ed. Urutau), do livro de contos “Todo mundo quer ver o morto” (Ed. Patuá, 2017) e do projeto “Agora estou aqui” (www.agoraestouaqui.com, 2020). Formada em Letras pela FFLCH-USP, é também dramaturga, professora e está em formação como psicanalista pelo Instituto Sedes Sapientae.


Da Redação: Caso esteja lendo pelo celular, vire-o na posição horizontal.

I.

você fecha a porta recolho
a noite, pratos e facas mas não
os copos e nem as taças porque

marcas de sua boca
contornarão azuis
o vidro e a virilha
quando amanhecer

onde os dentes cravaram saliva
transbordarão fungos
e outras culturas bravas

só para comprovarem
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀que você esteve aqui
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀que o Tempo em seus dedos dança eras geológicas
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀que o amor é antigo, roxo e cheio d’água

II.

dá uma vontade faminta de ficar calada no seu maxilar
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀deglutindo o silêncio sem relógio do seu peito
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀arrojando seu peso rochoso entre as costelas
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀respirando o retumbar ritmado da sua pele
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀auscultando a areia que bebi dos seus olhos,
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ampulhetas d’água

III.

mais me impressiona numa onça parda o tamanho das órbitas oculares, onde me perdi quando cai em seu corpo, montanha desfiladeiro e abismo ao mesmo tempo, se escalo seus pelos até o topo depois beijo seus cílios de menino é porque neles você protege o mundo, defende afiado entre os caninos a carne da minha coxa, mergulha as garras nos meus calcanhares transpassando os tendões, tomba minha espinha sem escamas na palma da mão: presa é o tempo do encontro com sua voz

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